Dever de casa

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Latam prevê sair da recuperação judicial no segundo semestre de 2021

Empresa está mais enxuta e com caixa reforçado por empréstimo de US$ 2,45 bilhões

Foto: Divulgação

A Latam Airlines, maior companhia aérea da América Latina, encerra 2020 com a expectativa de melhora gradual de voos e receita, e previsão de sair da recuperação judicial no segundo semestre de 2021. Com uma dívida de quase US$ 18 bilhões, a empresa que surge do brutal encolhimento do mercado aéreo, devido à pandemia da covid-19, está bem mais enxuta e com o caixa reforçado por um empréstimo de US$ 2,45 bilhões.

A Latam entrou em recuperação judicial nos EUA em maio deste ano. Em julho, a operação brasileira foi incluída no processo.

“Os US$ 2,45 bilhões são a quantia necessária para a companhia operar até a saída do plano de recuperação judicial. As dívidas criadas até 9 de julho estão congeladas e vão começar a ser pagas após a saída da recuperação judicial”, afirmou o presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier.

Além disso, observou Cadier, o caixa da empresa vem sendo reforçado com a recuperação gradual da venda de passagens aéreas. Ele disse que a previsão de saída no segundo semestre de 2021 está em linha com a estimativa inicial divulgada pela companhia, que era de encerrar o processo em 12 a 18 meses.

Creso Suerdieck Dourado“É uma notícia maravilhosa. Era uma empresa sólida que optou pela recuperação judicial justamente para passar pelo difícil momento da pandemia. Um dos setores mais afetados foi o das companhias aéreas por conta do turismo. Eles estão conseguindo fazer o dever de casa enxugando a empresa com financiamentos no exterior, pois tinham garantias para isso. Com isso, vão cumprir o processo de recuperação judicial com êxito”, declarou Creso Suerdieck, especialista em recuperações judiciais.

No dia 18 de setembro, a justiça americana aprovou o plano de financiamento do grupo Latam, com o financiamento no modelo DIP (“debtor in possession”), que permite aos credores que oferecem o crédito prioridade no recebimento dos valores. O financiamento foi estabelecido em duas tranches.

A Tranche A, de até US$ 1,3 bilhão, é liderada pela Oaktree Capital Management, que comprometeu US$ 1,125 bilhão, e na qual a Knighthead Capital participará com US$ 175 milhões. A Tranche C inclui um montante de US$ 1,15 bilhão e é composta por US$ 750 milhões comprometidos pela Qatar Airways e os grupos Cueto e Eblen, e US$ 250 milhões que a Knighthead Capital aportará. A Tranche C também inclui US$ 150 milhões de um fundo sob administração da Toesca S.A. Administradora General de Fondos.

O processo de recuperação judicial da Latam contempla dívidas de US$ 17,96 bilhões. Além de postergar os vencimentos dessas dívidas, disse Cadier, a companhia negocia novos contratos com as empresas de arrendamento de aviões e motores. “Se o arrendador não quiser discutir, temos a opção de devolver o avião contratado. Essa é uma vantagem importante, que a Azul e a Gol não têm. Isso coloca mais pressão no caixa deles do que no nosso”, afirmou Cadier.

A Latam devolveu 14 aviões dos 158 que operava no Brasil antes da pandemia. Hoje, 40 aeronaves da frota estão em solo. Globalmente, a empresa tinha 342 aviões, dos quais 25 já foram devolvidos.

“Estamos negociando com todos os arrendadores. Existe a possibilidade de devolver mais aviões no ano que vem ou fechar contratos mais longos, ainda não está 100% fechado”, afirmou o presidente da aérea. Agora, 97% da frota global da Latam é arrendada.

O executivo ponderou que, embora a aviação doméstica no Brasil apresente uma recuperação sólida desde a segunda metade de 2020, o cenário ainda é instável por causa da pandemia.

“Não temos grandes decisões sobre frota. Mas a pandemia oferece uma oportunidade para otimizar a frota. Para voos internacionais temos aviões 767, 777, 787 e A350. Espero que a gente saia da pandemia com dois ou três tipos de avião”, disse Cadier. Sem citar números, o executivo afirmou que a quantidade de aviões para voos domésticos também pode mudar.

“Hoje é difícil dizer quanto a operação vai ser menor. Desde o começo da pandemia foi dito que o mercado vai ser menor durante algum tempo”, disse.

Em número de funcionários, a Latam fez uma redução de 30% no Brasil, chegando a 15 mil. Globalmente, cortou 25% da sua folha e tem agora 30 mil colaboradores.

A empresa também demitiu 2,7 mil tripulantes e negocia, desde julho, uma redução permanente nos salários de pilotos, copilotos e comissários de bordo. As discussões com o Sindicato Nacional dos Aeronautas não atingiram um consenso e atualmente o assunto é mediado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).

“Historicamente, a remuneração dos tripulantes da Latam é entre 20% e 30% maior do que o pago pelos concorrentes. Em um mercado competitivo, com menos passageiros, a empresa não consegue pagar. É preciso equacionar isso”, disse Cadier. Em documento enviado ao TST em setembro, a empresa disse que tem um excedente de 1,2 mil tripulantes. Sua meta é cortar 20% dos gastos com folha de pagamento dos aeronautas.

O executivo estima que a Latam vai recuperar no segundo trimestre de 2021, 100% da oferta de voos domésticos que mantinha em 2019. No segmento de voos internacionais, ele espera obter de 50% a 60% da oferta pré-pandemia nesse período. Mas destacou que esse cenário pode mudar dependendo da velocidade de adoção das vacinas contra a covid-19 e do impacto da segunda onda da pandemia.

A Latam chegou a reduzir em 95% a sua operação em abril. Antes da pandemia, a empresa operava uma média de 700 voos por dia, sendo de 60 a 70 internacionais. Desde junho, apresenta uma recuperação gradual. Cadier disse que a empresa deve encerrar este ano com 58% da quantidade de voos domésticos que registrava em dezembro de 2019.

Em novembro, a Latam atingiu 55,3% da capacidade que tinha no Brasil em 2019. A Latam Colômbia mais que dobrou a operação doméstica em novembro, passando de 20% em outubro para 47%. No Peru, retomou em novembro nove destinos internacionais, a partir de Lima. No Chile, manteve a operação para 12 cidades do país e 11 destinos no exterior.

A oferta total da companhia no acumulado de janeiro a novembro caiu 62,7% ante 2019. O total de passageiros transportados recuou 62,4%, para 25,3 milhões. A operação doméstica no Brasil acumula queda de 49,3% na oferta e 54,5% no total de passageiros transportados, o que soma 12,8 milhões.

O executivo acrescentou que o acordo de compartilhamento de voos com a Azul contribuiu para a recuperação mais acelerada no Brasil. As empresas começaram em agosto a oferecer 50 rotas domésticas não sobrepostas, hoje são 178. “O ‘codeshare’ [acordo para compartilhamento de voo] está ajudando a trazer mais receita de passageiros. Estou satisfeito com o que temos até agora”, afirmou. Cadier acrescentou que o acordo deve ficar restrito a voos domésticos.

Para o segmento de voos internacionais, a Latam espera fechar o ano com 20% da oferta que tinha há um ano atrás. O executivo observou que os voos têm partido cheios. “Temos sido cautelosos em não colocar voos quando há baixa demanda”, disse o executivo.

Já a recuperação da receita de vendas, segundo o executivo, seguirá um ritmo mais lento.

Nos nove primeiros meses de 2020, a Latam reportou prejuízo líquido de US$ 3,58 bilhões, ante prejuízo de US$ 36,6 milhões um ano antes. A receita operacional encolheu 54,5%, para US$ 3,44 bilhões. As despesas operacionais tiveram uma redução de 35,8% na mesma base de comparação, para US$ 4,60 bilhões.

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