Ricardo Eletro: Bancarrota

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Ricardo Eletro: Bancarrota

Queda de 70% das vendas faz Ricardo Eletro pedir recuperação judicial

“Judiciário entendeu que o não pagamento dos impostos, mesmo sendo declarados, consistia num modelo de sonegação fiscal”, afirma especialista

(Foto: Reprodução)

A rede varejista Ricardo Eletro entrará esta semana com uma ação cautelar preparatória de Recuperação Judicial na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais, no Foro Central Cível de São Paulo. O pedido de ajuda ao judiciário acontece poucos dias após o fundador do grupo varejista, Ricardo Nunes, ser preso em Minas Gerais em operação que investiga sonegação fiscal e lavagem de dinheiro no estado mineiro. A força-tarefa, composta pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), pela Receita Estadual e pela Polícia Civil, acusa o grupo de ter sonegado cerca de 400 milhões de reais ao longo de quase 10 anos. Agora, com o grupo pressionado pelos credores e pela queda expressiva de faturamento durante a pandemia, a empresa recorre à Justiça para blindar seus ativos e renegociar as dívidas. A partir do momento em que a ação cautelar for aceita, a varejista terá 30 dias corridos para apresentar o pedido principal de recuperação judicial.

Ricardo Eletro: BancarrotaDe acordo com o especialista em recuperação judicial e empresário Creso Suerdieck, a ideia de criação de uma empresa de varejo para enfrentar comercialmente o Magazine Luiza, que estava em pleno crescimento, tendo ainda o Ponto Frio e Casas Bahia no setor, foi corajosa. “Naquele momento, para ter musculatura e não ficar para trás, fez a fusão com o grupo Insinuante, da Bahia. Era uma empresa muito séria e conceituada naquele Estado, com um projeto interessante. Foi viabilizado um grupo robusto, com um excelente poder de venda. Porém, juntamente com o faturamento havia um passivo agregado”, conta.

Segundo Creso, o Judiciário entendeu, no caso Ricardo Eletro, que o não pagamento dos impostos, mesmo sendo declarados, consistia num modelo de sonegação fiscal. “Para o setor empresarial é ruim, pois inibe o empregador brasileiro em investir. O empresário brasileiro é um ‘mágico’, pois é muito sacrificado. Quando não existem problemas trabalhistas, vem uma pandemia e para tudo, são eles que mais sofrem. Sempre acontece um fato novo para levar o empregador brasileiro a algum tipo de prejuízo ou celeuma”, afirma o empresário.

Tentativa de proteção

A Máquina de Vendas, holding da qual pertencem a Ricardo Eletro e outras quatro grandes varejistas regionais, até tentou evitar que a situação chegasse a esse ponto. Em março, a varejista entrou com uma liminar na Justiça paulista com o intuito de proteger a empresa. Nos autos, a companhia alegava estar com 74 lojas com pedidos de despejo — cerca de 25% do número total de unidades — e aproximadamente R$ 100 milhões em ordens de bloqueio de ativos da rede. O grupo ainda tem outras grandes dívidas. A companhia está entre os 500 maiores devedores da Previdência Social, por falta de recolhimento de obrigações previdenciárias para o INSS. Ao todo, a Ricardo Eletro deve mais de R$ 75 milhões à União — a empresa reconhece uma parcela dessa dívida e estava renegociando o valor com o Estado, mas, com a pandemia do novo coronavírus, as negociações foram paralisadas. A rede varejista possui lojas em 17 estados e teve um plano de recuperação extrajudicial homologado pela Justiça em 2019. Na época, as dívidas eram estimadas em R$ 2,5 bilhões com fornecedores e bancos. O pedido foi feito após a empresa receber um aporte de R$ 250 milhões do fundo de private-equity Starboard, que está reestruturando a firma.

A pandemia foi o golpe de misericórdia para a empresa. Ainda que as vendas do comércio eletrônico tenham se acelerado, a projeção de faturamento do grupo para o ano é de queda de 70% — em 2019, a receita da rede esteve próxima a R$ 2 bilhões. Ou seja, um declínio catastrófico. Com o deferimento da recuperação judicial, a empresa deve iniciar um processo agressivo de fechamento de lojas e redobrar a atenção ao e-commerce — reforçando, sobretudo, sua atuação como marketplace. “Os quatro meses com lojas fechadas, sem ajuda do governo, sem ajuda dos bancos, sem apoio de ninguém, fizeram com que a empresa não se sustentasse mais”, disse uma pessoa ligada à companhia. “Prevemos um segundo semestre muito conservador, com instabilidade na reabertura das lojas e demanda bastante retraída por causa do aumento do desemprego. Ainda estamos decidindo o tamanho da empresa em número de unidades para o futuro, mas a nossa situação hoje está insustentável devido à necessidade de capital de giro”.

Na noite de quinta-feira (9), o empresário Ricardo Nunes foi liberado após prestar depoimento que durou três horas. Ele deverá acompanhar o processo em liberdade. Os outros presos na operação de quarta (8), a filha do empresário, Laura Nunes, e o superintendente Pedro Daniel, também foram liberados após prestarem depoimento. A despeito do infortúnio, representantes da empresa mostraram-se satisfeitos com a exposição de mídia, que indicou que a Ricardo Eletro ainda tem um nome relevante no comércio varejista nacional.

Creso Suerdieck

 

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